sexta-feira, 17 de junho de 2016

Prisioneiros do Inverno

Faz frio aqui, acho que uns 16 graus que, para o litoral, é gélido. Com uma caneca de chá ao lado, devorei o livro "Prisioneiros do Inverno" em dois dias, cuja capa é uma paisagem de neve escondendo um casarão sinistro. A obra, da autora Jennifer McMahon, publicada no Brasil pela Record, gira em torno de um mistério na pequena cidade de West Hall e o diário da sua principal personagem, Sara Harrison Shea, encontrada morta (de maneira atroz) em 1908 em sua propriedade, onde paira uma assustadora lenda. O principal suspeito é o marido, Martin. Após sofrer a prematura morte da única filha, ainda criança, o casal se distancia e não consegue manter a normalidade da pacata vida rural onde vivem desde que nasceram. A situação se amplia a ponto de nenhum dos dois se reconhecer, a loucura espreitando seus destinos trágicos.
O livro é considerado de terror por abordar como se faz para que um morto, que eles chamam dormente, volte a viver. Mas pouco da trama é chocante a ponto de apavorar o leitor, na verdade a ansiedade em chegar ao desfecho é crescente porque o terror acontece gradualmente e num ritmo ágil que me encantou. Além do drama da mãe que perde a filha, conhecemos seu passado familiar, uma história pontuada pela dor de perdas e desencontros.
Paralelamente, conhecemos a história de Ruthie, uma garota cuja mãe simplesmente desaparece sem deixar vestígios. A ajuda vem do namorado a princípio e segue com o apoio da única irmã, uma menininha, que acaba invertendo os papeis. Investigando o paradeiro da mãe, tudo que Ruthie conhecia sobre si mesma vira de cabeça para baixo e ela precisa encarar seus maiores medos. Para se juntar à aflição das garotas surge Katherine, também abalada pela morte do marido fotógrafo e do filho pequeno. Mudando-se para a pequena cidade, a moça busca respostas às perguntas que restaram da última noite do marido antes de um acidente fatal e uma pista, o registro da conta paga num café numa cidade da qual nunca tinha ouvido falar, sugerindo um encontro dele com mais alguém, a cidade que ela escolhe para viver seu luto.
Cada capítulo se alterna entre o diário de Sara, as impressões de Martin, a busca de Ruthie e a saga de Katherine rumo ao desconhecido. Fala muito de amor, de apego, de como as pessoas lidam com a morte e como refazer a vida após tragédias imensas das quais sobreviver é mais que uma opção.
Recomendo a leitura. São 348 páginas de eletricidade gostosa, alguns clichês e uma ou outra falha, mas que não compromete o enredo. Gostei tanto da narrativa de McMahon que já me preparo para conhecer outras obras dela, que mora em Vermont com a família e se dedica a escrever livros de suspense. Ah, e leia no inverno.