sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Ratos



Este livro me prendeu do princípio ao fim. Fui fisgada pelo ritmo ágil de Gordon Reece em seu primeiro romance e pelo enredo, que, embora não seja original, traz consigo reflexões muito interessantes numa época em que a violência se banalizou.
Aborda intolerância e resistência, violência e paz, ódio e amor, segredos e o acaso, este acaso que muda tudo numa fração de segundos. Também fala do que somos: nem anjos, nem demônios; nem ratos, nem gatos. Seres duais, não raro antagônicos, em que a humanidade às vezes se depara com a sobrevivência. É neste conflito que o livro age sobre o leitor.

"Quando um gato entra na toca dos ratos, 
ele não vai embora deixando-os ilesos. 
Eu sabia como aquela história iria terminar. 
Ele mataria nós duas"

"Ratos" foi escrito em primeira pessoa. Quem narra é a adolescente Shelley, que vive com a mãe. Logo no início, a garota descreve a casa ideal que as duas encontram para finalmente viver em paz: confortável, aconchegante e isolada. A casa perfeita na verdade é o refúgio que mãe e filha buscavam depois de muito sofrimento na cidade, principalmente Shelley, pelo bullying que sofria de ex-colegas na escola e que quase culminou em tragédia, inviabilizando seu estudo em sala de aula.
Acostumadas a suportar humilhações, a aceitar a dor imposta pelos outros como parte da "lei do mais forte" e a se resignar à condição de pessoas frágeis e pacíficas, decidiram abandonar tudo que tinham em busca do isolamento que lhes garantiria a tão sonhada paz. Condenadas ao exílio, vitimizadas e duplamente penalizadas, elas queriam tranquilidade e segurança para viver com simplicidade, sem prejudicar ninguém. Elas se bastavam pelo amor mútuo, e tudo estava ótimo.
Mas no aniversário de dezesseis anos de Shelley algo mudaria o que elas construíram. O paraíso foi ameaçado, assim como suas próprias vidas. Se na primeira parte do livro a revolta diante do penoso cotidiano da adolescente e sua mãe nos provoca uma enorme inquietação, na segunda parte do livro a narrativa se torna vibrante e tensa a cada página, que eu devorei com entusiasmo.
Recomendo o romance de Reece para quem deseja um livro bem escrito, num ritmo de suspense que me surpreendeu. Pelo preço de promoção que estão vendendo em lojas virtuais, é uma excelente aquisição.
A partir de um acontecimento que parece até banal de tão frequente em noticiários policiais de emissoras de tevê, acompanhamos a transformação (ou a revelação) de duas mulheres para além das suas próprias identidades.
Aguardo, ansiosa, mais livros deste autor.

("Ratos", Gordon Reece. Editora Intrínseca)

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