domingo, 1 de fevereiro de 2015

Um começo


Desde criança gosto de ler. Na infância, os livros foram professores eficazes, companheiros de viagem, mestres, gurus, sempre presentes, ao alcance das mãos. Na adolescência busquei neles as respostas para minhas dúvidas, os esclarecimentos para apaziguar minha ansiedade, um mapa do viver que apertava a campainha e eu, consternada, ficava entre atender ou não. Época do vestibular. Jornalismo. Descartei Letras porque nunca pretendi seguir a profissão sonhada por minha mãe, o magistério. Jornalismo tinha tudo junto e misturado: aventura, coragem, ousadia, novidades, informação e, claro, o delicioso ofício de escrever. Pela primeira vez, eu subvertia a ordem e invertia a posição: de leitora a escritora. Mas livro e jornal são coisas bem diferentes, aprendi isso faz tempo e só assumi recentemente. 
Também descobri que o Jornalismo real pode ser bem diferente do idealizado por uma jovem romântica. Com o tempo, descerraram-se os véus das ilusões e eu me vi com um desejo crescente de por fim a um ciclo profissional. Flertei com a fotografia, com a publicidade e comecei a assumir a literatura.   
De uns anos para cá, o sonho de ser escritora gritou dentro do meu cérebro analítico, doutrinado pela fórmula de Kipling (¹). E, surpresa, constatei que já não conseguia ir além do lead (²). Resolvi então, talvez de forma inconsciente, voltar a ser leitora. Contumaz. Voraz. Compulsiva. 
Essa avidez pela leitura coincidiu com momentos importantes da minha vida. Não adianta: corro para os livros quando a coisa aperta. Tento buscar respostas para a vida no papel. E enquanto subiam as pilhas dos volumes que chegavam pelo correio, aumentava minha ansiedade e meu desejo de escrever. Livros, não jornais. Diante do embrião de biblioteca que brotou no meu criado-mudo e se espalhou pelo quarto, pela sala e agora ocupa uma biblioteca de verdade, meu sonho começou a tomar forma e fazer sentido. Com esse blog, a paixão pela leitura e pela escrita fluirá como um rio para atingir outras tantas pessoas com histórias semelhantes.
Lendo muito - mas só à noite, quando as crianças estão dormindo e consigo um tempo só meu, recomecei a escrever de forma livre, criativa, literária, como um bebê que engatinha. Sem regras. Sem crivos. Liberta, enfim. Contos, poesias, crônicas, romances que um dia publicarei.
Assim criei esse blog. Não com a pretensão de ser crítica literária, longe disso. Nem com o desejo de notoriedade (talvez inconsciente?). Pode ser mais uma resposta para mim mesma diante dos pacotes semanais que implicam em gastos no cartão de crédito, mea culpa. Na verdade, não sei. 
Costumo desistir de algumas coisas que gosto e quero. Talvez desista desse blog. Mas, enquanto ele pulsar dentro de mim, espero contribuir para incentivar a leitura, a troca de ideias e de saberes, jogar luz em nossos dilemas ou simplesmente relaxar, curtir. 
Biblioteca de Abajur nasceu assim. Um projeto lânguido, gostoso e preguiçoso como uma rede, tranquilo como alguém que lê todas as noites antes de dormir.

(¹) No Jornalismo há uma regra básica em que o primeiro parágrafo deve responder às perguntas "o que, quando, quem, onde, por que e como". Em inglês,  cinco letras "w" e uma "h". A fórmula foi atribuída a Rudyard Kipling, autor e poeta britânico, ao escrever uma fábula infantil.
(²) Lead é o começo de uma matéria, que deve conter as principais informações ao leitor. No Jornalismo, os dados menos interessantes ficam para o final, seguindo o modelo de pirâmide invertida. 

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